“Conversar é compartilhar alma em pequenas doses.” – Márcia

Em tempos digitais, onde o toque virou emoji e a escuta virou pressa, há algo profundamente transformador em simplesmente sentar em círculo e conversar. As rodas de conversa, tão antigas quanto a própria oralidade, são espaços de cura, pertencimento e construção coletiva de saberes. E para mim, Márcia, essa história é mais do que teoria — é vida vivida.

“É necessário resgatar a esperança perdida, reconstruir a confiança quebrada, reinventar a solidariedade humana.”
– Paulo Freire

A roda como lugar ancestral

Antes mesmo de saber o nome “Roda de Conversa”, eu já vivia sua essência. Na minha infância, as rodas se formavam naturalmente ao redor do fogão a lenha, nos encontros de fim de tarde, nos antigos cursos de crochê e tricô oferecidos pelas associações de bairro ou “igrejas”clube de mães”. Mulheres se reuniam com suas agulhas, linhas e causos. Enquanto os pontos se formavam, laços também se teciam: de amizade, de escuta, de acolhimento.

Aquelas rodas não eram apenas encontros — eram espaços terapêuticos, embora não usássemos esse nome. Mais tarde, já adulta, fui entender que isso tinha nome, história, método: era a Terapia Comunitária Integrativa, criada pelo psiquiatra brasileiro Dr. Adalberto Barreto, pensador que compreendeu que toda comunidade tem saberes e potências que podem se transformar em cura coletiva.

“A palavra é o primeiro remédio.”
— Dr. Adalberto Barreto

Foto de Nataliya Vaitkevich

A escuta que transforma

Na roda, não há palco nem plateia. Todos falam, todos escutam. A horizontalidade é regra e o afeto é lei. Na Educação Infantil, onde atuei no início da minha carreira, as “rodinhas” no início da aula, com as crianças, eram o momento mais sagrado do dia. Ali, cada um podia contar como se sentia, o que viu, o que sonhou. Com o tempo, compreendi que aquilo era educação emocional em sua forma mais pura e natural.

Carl Rogers, psicólogo norte-americano e pai da Psicologia Humanista, que sempre destaco em meus textos, dizia que a escuta empática é o maior presente que podemos oferecer a alguém. Nas rodas, essa escuta não é apenas ativa, é afetiva — ela acolhe, segura, reconhece.

Da tradição ao presente: o que ainda podemos aprender

As redes sociais nos conectaram ao mundo, mas muitas vezes nos desconectaram de nós mesmos e dos outros. A roda de conversa nos lembra que há outro jeito de estar junto: olho no olho, pausa na fala, silêncio que escuta.

E talvez seja disso que o mundo mais precise: de escuta amorosa e presença real.


Benefícios das Rodas de Conversa:

  • Fortalecem vínculos afetivos
  • Promovem o sentimento de pertencimento
  • Reduzem o isolamento social
  • Valorizam saberes populares e experiências de vida
  • Acolhem dores e celebram conquistas coletivamente

Imagem: Pexels

Como começar a praticar rodas de conversa:

  • Escolha um espaço seguro, sem julgamentos. Pode ser sua casa, escola, trabalho ou comunidade.
  • Organize em círculo. Isso simboliza igualdade e pertencimento.
  • Estabeleça combinados: escutar com atenção, não interromper, acolher sem julgar.
  • Use perguntas disparadoras ou temas do cotidiano.
  • Permita o silêncio. Às vezes, ele também comunica.
  • Valorize cada fala como parte da construção coletiva.

Comece Pela Escuta — a Gente Te Ajuda

Criar espaços de escuta genuína e acolhedora nem sempre é fácil — a correria do dia a dia, os silêncios acumulados e até o medo do que pode surgir nas falas podem ser barreiras. Mas é justamente por isso que não precisamos (nem devemos) fazer isso sozinhos.

Se você deseja iniciar uma roda de conversa na sua escola, empresa, coletivo ou comunidade, saiba que estamos aqui para te ajudar — com metodologia, afeto e muita escuta ativa. A gente te acompanha nessa jornada de construção de vínculos e fortalecimento do pertencimento.

Vamos juntos criar esse espaço? Entre em contato e vamos conversar, olho no olho, como antigamente — só que com os aprendizados de hoje.

Foto de Pavel Danilyuk

Conclusão

Se você sente que está perdendo o fio da meada no mundo acelerado, talvez seja hora de sentar, respirar e fazer um ponto. De crochê, de conversa, de cuidado. Como faziam nossas avós, como fazem nossas crianças, como ainda podemos fazer — juntos.

As rodas de conversa são, acima de tudo, um retorno à humanidade. Elas nos lembram que não estamos sós, que nossas histórias importam, e que o simples ato de escutar com o coração pode ser o primeiro passo para a cura.


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