Em 2019, movida por uma intuição profunda e pelo desejo de promover o bem-estar no ambiente escolar, idealizei e implementei o Laboratório Criativo em uma escola pública. O projeto, inicialmente voluntário, buscava criar espaços de acolhimento e cuidado dentro da rotina educacional. Os resultados foram surpreendentes: a escola, que enfrentava o risco de fechamento, revitalizou-se, ampliando suas atividades e fortalecendo os vínculos com a comunidade.
Naquela época, eu ainda não conhecia formalmente as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Foi somente mais tarde que compreendi que o que havíamos construído no Laboratório Criativo alinhava-se perfeitamente com os princípios dessas práticas reconhecidas pelo SUS desde 2006. As PICS, que incluem abordagens como arteterapia, musicoterapia, ioga e aromaterapia, têm se consolidado como ferramentas eficazes na promoção da saúde integral.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2024, foram realizados mais de 7 milhões de procedimentos relacionados às PICS, beneficiando mais de 9 milhões de pessoas em todo o país. Esse crescimento de 70% em relação a 2022 reflete a crescente valorização dessas práticas no cuidado à saúde. Além disso, mais de 80% dos municípios brasileiros já oferecem algum tipo de prática integrativa na rede pública de saúde.
A experiência do Laboratório Criativo demonstrou, na prática, o potencial transformador das PICS no ambiente escolar. Ao integrar essas abordagens ao cotidiano educacional, é possível promover não apenas o bem-estar físico e emocional dos estudantes, mas também fortalecer os laços comunitários e a cultura do cuidado.

Este artigo é um convite à reflexão sobre a importância de reconhecer e valorizar iniciativas que, muitas vezes, nascem da intuição e do compromisso com o outro, mas que encontram respaldo e ampliação quando alinhadas a políticas públicas estruturadas. As PICS representam uma oportunidade de transformar não apenas a saúde, mas também a educação e a vida em comunidade.
O que são as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS)?
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são um conjunto de abordagens terapêuticas que promovem o cuidado integral à saúde, considerando a pessoa em sua totalidade – corpo, mente, emoções e relações sociais. São reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como práticas de medicina tradicional e complementar, e no Brasil passaram a ser oficialmente ofertadas pelo SUS a partir de 2006, com a criação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).
Entre as práticas mais conhecidas estão: acupuntura, arteterapia, biodança, meditação, musicoterapia, fitoterapia, ioga, auriculoterapia, terapia comunitária integrativa, reike entre outras. Todas elas buscam atuar de forma preventiva, acolhedora e menos invasiva, estimulando o autocuidado, o vínculo terapêutico e o protagonismo dos sujeitos sobre a própria saúde.
Um pouco de história: das práticas tradicionais ao reconhecimento oficial
Apesar de serem oficialmente reconhecidas apenas nos últimos anos, as práticas integrativas sempre fizeram parte do saber popular. Povos indígenas, comunidades tradicionais e culturas ancestrais ao redor do mundo já utilizavam, há séculos, recursos naturais, rituais, plantas medicinais e formas de escuta e cuidado coletivo para promover a saúde.
O Brasil foi pioneiro na institucionalização dessas práticas no sistema público de saúde. A partir de 2006, com a publicação da PNPIC, passou-se a integrar essas abordagens ao SUS de forma estruturada. Em 2017 e 2018, o número de práticas reconhecidas aumentou significativamente, chegando atualmente a 29 práticas oficialmente integradas.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de atendimentos com PICS cresceu de forma expressiva: só em 2023, foram realizados mais de 7 milhões de procedimentos, alcançando mais de 9 milhões de brasileiros, em um total de 4.278 municípios com oferta ativa dessas práticas – o que representa mais de 80% do território nacional.
[Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de Atenção Primária à Saúde – Dados de 2023/2024]
Como funcionam as PICS no SUS?
As PICS são oferecidas principalmente em unidades da Atenção Primária à Saúde, como Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Referência em Práticas Integrativas, e em programas de Saúde da Família. A implementação depende da capacitação dos profissionais de saúde e da disponibilidade de terapeutas certificados nas práticas.
A inclusão das PICS nas políticas públicas tem como pilares:
- A humanização do cuidado;
- A valorização do saber popular e da escuta ativa;
- A prevenção de doenças crônicas e psicossomáticas;
- A redução do uso excessivo de medicamentos e procedimentos invasivos.
Uma transformação que começa pelo afeto
O que as estatísticas não revelam, mas que se torna evidente na prática, é o impacto subjetivo dessas ações. Quando um grupo de mulheres senta em roda para falar de si, quando crianças experimentam pintar seus sentimentos, ou quando um educador encontra na meditação um momento de pausa… ali há cura.
Foi isso que experimentei com o Laboratório Criativo. Sem saber que estava utilizando práticas integrativas, já intuía que criar espaços de escuta, arte e cuidado era essencial para transformar o ambiente escolar. Mais do que um projeto, foi um exercício de coragem e sensibilidade coletiva.
E hoje, com mais formação e consciência, reafirmo: as PICS têm um papel potente na reconstrução dos nossos vínculos e no fortalecimento da saúde emocional e social das comunidades.
As PICS como ferramenta pedagógica: um novo caminho para a educação
Nos próximos artigos, quero aprofundar essa perspectiva: como as práticas integrativas podem ser levadas para a escola como recurso pedagógico? De que forma educadores, estudantes e famílias podem se beneficiar de técnicas como a Terapia Comunitária Integrativa, o uso de óleos essenciais, o relaxamento guiado, ou as artes expressivas?
Vamos falar sobre formação de educadores, escuta ativa, bem-estar na rotina escolar e estratégias de implementação realistas e eficazes.
E se você quiser começar agora…
Se você leu até aqui e se sentiu inspirada ou inspirado a levar esse tipo de cuidado para sua escola, empresa ou comunidade, saiba que você não está sozinha(o).
Nem sempre é fácil abrir espaços de acolhimento e mudança – mas é possível, e nós podemos te ajudar. Nossa consultoria oferece rodas de conversa, formações sobre as PICS e projetos personalizados, com metodologia e, acima de tudo, com afeto.
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