Sou terapeuta e educadora. Não sou especialista em educação especial, mas venho há anos observando e aprendendo sobre o acolhimento de crianças neurodivergentes — tanto como profissional quanto como tia de um adolescente autista, não alfabetizado, que hoje estuda na APAE, após vivências pouco acolhedoras no ensino regular.
Foi a partir dessas experiências que comecei a perceber como, muitas vezes, o corpo do professor é usado como única ferramenta de contenção em momentos de crise. Segurar uma criança que se desregula, conter seus movimentos para evitar fugas ou agressões — tudo isso em meio a uma sala cheia de alunos tentando seguir com suas atividades. Já presenciei esse cenário: uma criança em crise no centro, enquanto dezenas de olhinhos tentam fingir normalidade. Isso parte o coração.

Desregulação sensorial e os limites da inclusão nas escolas
Uma crise de desregulação não acontece “do nada”. Muitas vezes, ela é o resultado de um acúmulo de estímulos: ruídos, luzes, cores vibrantes, atividades repetitivas e uma rotina rígida demais. Elementos comuns à maioria das escolas.

Ao contrário do que muitos pensam, a inclusão não significa simplesmente ter todos na mesma sala, fazendo as mesmas atividades. Isso pode funcionar para algumas crianças, mas para outras — especialmente as que estão dentro do espectro autista — pode ser um gatilho constante de estresse e sofrimento. Estudos demonstram que a mera presença física do aluno com TEA em sala de aula não assegura sua inclusão real, podendo, na ausência de suporte adequado, causar mais angústia do que pertencimento (Castro & Carvalho, 2010; Vieira & Nunes, 2015).
De fato, a inclusão efetiva requer adaptações curriculares, ambientes preparados e apoio contínuo. Professores que atuam com crianças autistas frequentemente relatam desafios emocionais e estruturais diante da falta de formação específica e suporte técnico, o que impacta diretamente a qualidade do acolhimento e a aprendizagem dos alunos.
Projetos em debate: salas sensoriais como direito em construção
Em 2023 e 2024, começaram a tramitar na Câmara dos Deputados projetos de lei que propõem a criação de espaços sensoriais nas escolas públicas de educação básica.
Um deles é o PL 2864/2023, que trata da criação de salas de silêncio para estudantes neuroatípicos, com fones redutores de ruído e objetos reguladores. Outro é o PL 4010/2024, que prevê a inserção de espaços sensoriais diretamente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Ambos os projetos ainda estão em análise, mas já indicam uma mudança necessária de mentalidade: acolher não é apenas um gesto bonito — é uma medida estrutural. Um passo real em direção à inclusão de verdade.
O que há dentro de uma sala sensorial?

Esses espaços são planejados para promover segurança, tranquilidade e autorregulação. Eles combinam estímulos cuidadosamente selecionados para diferentes sentidos:
- Luzes e projeções coloridas: para estimular a visão de forma suave e lúdica;
- Música e sons suaves: que ajudam a acalmar e organizar o sistema auditivo;
- Superfícies táteis: como tapetes, tecidos, escovas e almofadas, que proporcionam experiências com diferentes texturas;
- Elementos de aromaterapia: para engajar o olfato de forma acolhedora e terapêutica;
- Materiais interativos: como bolas, pufes, redes, balanços e escorregadores, que envolvem o movimento e favorecem o desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação.
Segundo um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders, ambientes sensoriais controlados demonstraram impacto positivo na redução de comportamentos desafiadores e na melhoria da interação social em crianças com TEA. (Fonte: SciELO)
Esses dados reforçam que a criação desses espaços não é apenas um gesto de cuidado, mas uma estratégia educativa efetiva — e baseada em evidências.
É sobre direito, não privilégio
Criar um espaço para que uma criança possa se regular não é um capricho, nem “superproteção”. É um direito. Um espaço assim não deve ser visto como castigo ou afastamento, mas como uma pausa necessária — um tempo de cuidado que favorece a convivência.
Ao cuidarmos de quem mais precisa, cuidamos de todos.
Caminhos possíveis: AR como apoio à inclusão real
Na AR – Adorável Rotina, acreditamos em uma educação mais humana, sensível e possível. Sabemos que muitas escolas enfrentam limitações de espaço, verba e formação, mas também sabemos que inclusão de verdade começa com escuta, intenção e ações viáveis.
Nossa consultoria oferece apoio direto a escolas, instituições e profissionais que desejam construir caminhos reais de inclusão:
- Formações para professores e equipes técnicas;
- Sensibilização sobre neurodivergências e desregulação sensorial;
- Criação de espaços de acolhimento com base em recursos acessíveis e funcionais;
- Acompanhamento na implantação de salas sensoriais ou áreas de pausa reguladora, mesmo com poucos recursos.
Não prometemos soluções prontas — oferecemos caminhos possíveis, construídos junto com você, a partir da realidade da sua escola e do desejo genuíno de cuidar de todas as crianças.
Se sua instituição acredita que acolher é mais que um discurso, vamos conversar.
Entre em contato com a AR. Vamos juntos transformar o ambiente escolar em um lugar de pertencimento e cuidado integral.
Referências
Castro, L. P., & Carvalho, A. A. M. (2010). Autismo e inclusão escolar: os desafios da inclusão do aluno autista. Revista Educação Pública. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/34/autismo-e-inclusao-escolar-os-desafios-da-inclusao-do-aluno-autista
Vieira, M. L. M., & Nunes, L. R. (2015). Inclusão escolar e autismo: sentimentos e práticas docentes. Psicologia Escolar e Educacional, 19(2), 303-311. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pee/a/NwnK5kF4zM9m9XRynr53nwF
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